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É possível ser líder sem Inteligência Emocional?


Nos últimos anos a expansão da globalização e a evolução da democracia em várias partes do mundo fez com que mais pessoas buscassem maior autonomia e liberdade em suas escolhas e um desejo de participar de forma ativa nas decisões que impactam seu cotidiano. Neste contexto mais inclusivo e igualitário, formas rígidas e hierárquicas de liderança estão sendo substituídas por formas mais flexíveis e participativas. Para o sucesso desta transição é fundamental o desenvolvimento da Inteligência Emocional.

Podemos definir a Inteligência Emocional (IE) como a capacidade de compreender, gerenciar e utilizar as emoções para tomar decisões e criar conexões construtivas. Implica reconhecer que a nossa comunicação e os nossos comportamentos sempre geram algum impacto emocional sobre os outros. Em especial na relação líder-equipe, este impacto tem consequências imediatas sobre o desempenho e a motivação no trabalho. Líderes capazes de compreender o impacto do seu comportamento e que se dispõem a gerenciar suas reações emocionais de forma construtiva permitem que suas equipes possam focar suas atenções plenamente no trabalho, ao invés de criarem mecanismos de proteção. Líderes emocionalmente maduros desejam receber feedbacks constantes de suas equipes, são capazes de ter empatia com as reações do outro e se mostram disponíveis para mudar comportamentos e atitudes sempre que necessário.  Por trás destas atitudes está o desejo genuíno de construir relações de respeito e compreensão mútua.

Neste novo contexto das relações de trabalho, aqueles que não forem capazes de desenvolver a inteligência emocional terão grandes dificuldades para alcançar e permanecer em posições de liderança, pois o trabalho está sendo realizado cada vez mais em rede e o seu resultado depende, em grande medida, da qualidade do relacionamento entre líderes e subordinados. Como comentou Lolly Daskal, num mundo em que a qualidade dos relacionamentos está se tornando condição essencial para crescer e prosperar, “aqueles que não tem inteligência emocional irão se autodestruir muito antes de conseguirem alcançar o sucesso”.[1]

Quando, na década de 1990, Daniel Goleman publicou os primeiros artigos sobre a Inteligência Emocional, muitas empresas e programas de liderança buscaram incluir suas descobertas em seus modelos de gestão e programas de desenvolvimento. Contudo, desde aquela época a incorporação das habilidades da IE nas organizações e, em especial, na liderança ainda é muito limitada. A maior dificuldade está relacionada ao desenvolvimento psicológico dos indivíduos e à criação de redes neurais durante os primeiros anos de vida. Como sabemos, é muito difícil mudar hábitos e padrões de relacionamento humano que tenham sido estabelecidos e reforçados por muitos anos. Para que estas mudanças ocorram é necessário investimento de tempo e energia – e claro, a pessoa precisa querer desenvolver sua Inteligência Emocional.[2]

Embora as pesquisas mostrem que a IE é um dos maiores diferenciais entre os líderes de sucesso e a média deste grupo, ainda são poucos aqueles que colocam em sua lista de prioridades desenvolver suas habilidades. Como comenta a coach de executivos Muriel Wilkins, “eu nunca ouvi dos meus clientes que desenvolver a Inteligência Emocional era importante. Mas muitas deles comentaram que seus colegas e superiores deveriam trabalhar esta questão como prioridade máxima: esta é a questão – aqueles que mais necessitam desenvolvê-la são os que menos consciência tem deste fato”.[3]

Se você acha que desenvolvê-la é uma perda de tempo, ou que existem questões mais importantes para o sucesso da liderança, leia abaixo algumas das consequências da falta de Inteligência Emocional:

Você não se sente compreendido – com frequência existe uma distância entre aquilo que você comunicou e aquilo que as pessoas compreendem. Quando o discurso foca apenas nos elementos racionais/objetivos da mensagem, esta tende a ter pouco impacto, pois a dimensão emocional/subjetiva que reforça a mensagem racional está ausente. Por exemplo, você pode comunicar à sua equipe a urgência na entrega de determinado projeto, mas usa palavras e um tom de voz tão neutros que as pessoas têm dúvidas de que a urgência é realmente uma questão importante para você;Você não percebe os sinais não verbais que as pessoas enviam – você geralmente se guia apenas por aquilo que as pessoas falam, e não se dá conta que grande parte da comunicação numa organização é não verbal – olhares, posturas, falta de participação numa reunião importante, tom de voz numa mensagem, etc. Este fator é ainda mais importante existe um clima de medo e as pessoas não podem expressar verbalmente o que pensam ou sentem;Você se surpreende com alguns comportamentos – não saber reconhecer ou interpretar os sentimentos e emoções do outro podem limitar a sua capacidade de antever comportamentos e atitudes. Isso pode deixa-lo refém de situações desagradáveis, como a perda de motivação ou a saída “inesperada” de uma pessoa importante de sua equipe;Você se estressa com facilidade – muitas pessoas não têm acesso aos próprios sentimentos porque aprenderam a negá-los ou reprimi-los, pois no passado foram causa de conflito e sofrimento. A questão é que sem contato com emoções e sentimentos não somos capazes de dar sentido aquilo que está acontecendo, nem discernir entre o que é importante e o que não é. Finalmente nos desconectamos de nós mesmos e do nosso ambiente, o que gera várias consequências, entre elas o estresse;Você tem dificuldade de equilibrar a sua abordagem – sem o desenvolvimento da IE você pode ter a tendência de ser assertivo em excesso (tornar-se agressivo), ou aceitar sem questionamento o ponto de vista do outro (tornar-se passivo). Qualquer um destes extremos é prejudicial para o papel do líder, pois no modo agressivo ele perde a capacidade de ouvir e reconhecer boas ideias, enquanto no modo passivo ele não é capaz de definir os limites e as responsabilidades das pessoas envolvidas;Você rapidamente se identifica com uma ideia/caminho de ação e a defende de todas as formas – pessoas com baixa IE tendem a formar uma ideia ou compreensão de uma situação muito rapidamente, e a defendem com unhas e dentes. Sem conexão com a dimensão emocional, a tendência é ver as situações de forma extrema, como “tudo ou nada”, “branco ou preto”. Líderes que desenvolveram a IE sabem que muitas percepções são influenciadas por emoções momentâneas. Ao permitir que as emoções se dissipem eles descobrem que as percepções mudam e, com elas, a compreensão da situação ou problema;Você cria e sustenta inimizades facilmente – sem conexão com os próprios sentimentos e os sentimentos dos outros é muito fácil dizer e fazer coisas que incomodam, machucam e agridem a sensibilidade e os valores alheios – e muitas vezes a pessoa nem se dá conta das consequências. Provavelmente esta é a causa mais importante para os conflitos no ambiente de trabalho;Você não reconhece as situações em que tende a perder o equilíbrio emocional – pessoas com aguçado senso de IE sabem que existem determinadas situações e comportamentos que tendem a fazer emergir o pior dentro delas. Comentários, comportamentos ou atitudes podem ter o “poder” de acionar emoções e reações destrutivas que frequentemente contaminam relações e ambientes de trabalho;Você culpa os outros pela maneira como se sente – emoções e sentimentos negativos são gerados internamente, com base em interpretações distorcidas da realidade. Enquanto você não se der conta e assumir responsabilidade pelas suas reações emocionais, continuará atribuindo aos outros um poder que eles não têm.

Em resumo, desenvolver a Inteligência Emocional não é mais uma questão secundária ou “politicamente correta”. Para aqueles que desejam inspirar e motivar positivamente suas equipes e organizações, está se tornando uma das competências essenciais da liderança.

[1] The Leadership Gap: What Gets Between You and Your Greatness.

[2]Annie Mcke. How to Help Someone Develop Emotional Intelligence. Harvard Business Review

[3] Muriel Maignan Wilkins. Signs that you lack Emotional Inteligence. Harvard Business Review.

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