Neste momento de tantas provações, muitas pessoas têm me perguntado: qual é o conhecimento ou habilidade mais eficaz para lidar com as situações que estou vivendo?
Como eu poderia ser mais produtivo e construtivo diante dos desafios que estou enfrentando?
O que fazer para transformar a desesperança e a impotência em otimismo, autoconfiança e capacidade para agir de forma consciente?
Se eu pudesse resumir num único parágrafo o que aprendi com os meus professores na minha jornada de autoconhecimento, seria:
“Entenda que toda situação que você vive é neutra; são os seus pensamentos, apoiados pelo seu sistema de crenças e experiências do passado, que interpretam as situações como positivas ou negativas. E com base nesta interpretação você cria a sua história, muitas vezes identificado com a vítima, perseguidor ou salvador. Mas raramente como protagonista que cria um novo futuro”.
Quando eu compartilho e trabalho este conhecimento com meus clientes, percebo uma reação que combina surpresa, ceticismo e curiosidade. Esta reação, em grande parte, se apoia na crença de que o nosso bem estar e felicidade dependem do contexto externo em que vivemos. Sem perceber, criamos uma relação de dependência em relação a pessoas e situações para nos sentirmos seguros, confortáveis e felizes.
Poucos têm consciência de que o mundo com o qual nos relacionamos não é algo “fora de nós”, independente de quem somos. Porém, na medida em que ampliamos nossa consciência, nos damos conta que não nos relacionamos com o mundo “lá fora”, mas com a percepção que construímos “aqui dentro”. Esta compreensão de que o mundo com o qual nos relacionamos é uma construção pessoal, influenciada pelas experiencias e condicionamentos do passado, é parte de um processo mais amplo chamado de transformação ou individuação da consciência. É a partir dela que nos libertamos da posição de dependência ou vitimismo em relação às situações – os problemas são criados pelos “outros”, e ganhamos consciência de nossa responsabilidade pelas escolhas que fazemos – os problemas são criados pela minha interpretação da realidade. Esta transição representa o momento mais importante na vida de uma pessoa, e para os líderes atuais, que estão tendo que lidar com as mudanças sísmicas geradas pela crise, se tornou uma questão central para o sucesso de suas carreiras e para a prosperidade de suas empresas.
Atualmente existem vários métodos de autoconhecimento que facilitam e aceleram esta transição, da consciência de dependência (vitimismo) para a de autonomia (protagonismo). Uma das mais poderosas é a metodologia “O Trabalho”, criada por Byron Katie. Ela é uma norte-americana que desde a década de 80 tem compartilhado esta abordagem prática de transformação pessoal para milhões de pessoas. No ápice de uma longa experiência de depressão, Katie descobriu espontaneamente que nos momentos em que acreditava em seus pensamentos, ela sofria; e quando não acreditava, não sofria. Ela aprendeu que investigando seus pensamentos libertava-se das histórias que sustentavam o seu sofrimento. E descobriu que essa descoberta é verdadeira para todos os seres humanos, em qualquer situação.
Ao reconhecer o poder desta descoberta ela se propôs a investigar cada pensamento ou crença que gerava estresse, frustração ou sofrimento. Foi o início de um processo de desconstrução das referências que tinham sido construídas no contexto familiar e social, que até aquele momento não tinham sido exploradas de forma consciente. Para sua surpresa, quanto mais aprofundava esta investigação interior, mais sentimentos de paz, alegria e liberdade foram sendo experimentados.
Durante este processo de investigação interior, Byron Katie desenvolveu de forma intuitiva o método “O Trabalho”, composto por cinco eficientes perguntas:
1. Este pensamento é verdadeiro?
2. Você pode ter absoluta certeza de que ele é verdadeiro?
3. O que acontece, o que você sente e faz, quando acredita que ele é verdadeiro?
4. O que aconteceria se você não pudesse acreditar que ele é verdadeiro?
5. Reverta o significado deste pensamento.
Embora o método seja simples, a sua aplicação no contexto correto pode gerar transformações profundas em nossa maneira de compreendermos a nós mesmos e a realidade com a qual nos relacionamos.
Para demonstrar o poder de transformação desta abordagem, vou utilizar um exemplo a partir da minha identificação com um pensamento ou crença que provavelmente muitas pessoas estão enfrentando neste momento:
Eu não tenho controle sobre o que está acontecendo – o que vai ser da minha vida?
Para que o exercício tenha maior profundidade é importante identificar qual é o medo específico que você está experimentando em relação à falta de controle. Por exemplo:
· Eu não tenho controle sobre o que está acontecendo – vou enlouquecer!
· Eu não tenho controle sobre o que está acontecendo – vou perder tudo o que tenho!
· Eu não tenho controle sobre o que está acontecendo – eu e minha família vamos sofrer!
· Eu não tenho controle sobre o que está acontecendo – vão descobrir minha incompetência!
Na sequência abaixo, vou utilizar as perguntas do método para refletir sobre o primeiro exemplo:
Crença/pensamento: Eu não tenho controle do que está acontecendo – vou enlouquecer!
Isso é uma verdade? Quando me coloco no lugar das pessoas. que neste momento estão identificadas com este pensamento, especialmente aquelas que dependiam da idéia de controle para poderem se sentir seguras, respondo: sim, é uma verdade.
Posso ter absoluta certeza de que este pensamento é verdadeiro?Quando reflito sobre o pensamento, percebo que não posso dizer que este pensamento é absolutamente verdadeiro. É possível que seja apenas uma interpretação que criei e aprendi a repetir, com base nas experiências frustrantes do passado que me fizeram acreditar que não ter controle pode ser catastrófico.
O que geralmente acontece (o que você sente e faz) quando acredita que este pensamento é verdadeiro? Todos os medos de perda de controle vêm à tona imediatamente; minha mente fica completamente tomada por pensamentos e sentimentos confusos e antagônicos, o que gera a sensação de “enlouquecimento”; me comporto de forma descontrolada, agindo de forma impulsiva e tomando decisões incoerentes na esperança de encontrar meu rumo novamente; “enlouqueço” as pessoas a minha volta, culpando-as ou obrigando-as a me ajudarem a encontrar meu equilíbrio; acredito que o pior vai acontecer, a cada momento; fico exausto, irritado, deprimido, frustrado e impotente. Para diminuir o sofrimento tomo remédios controlados, ou me entorpeço com bebidas alcoólicas ou me alimento de forma impulsiva e inadequada para “aliviar” o mal estar. Ou trabalho de forma compulsiva para mostrar que estou fazendo o máximo para retomar o controle da situação; ou fico me conectando com outras pessoas para “desabafar” e me distrair do meu desconforto. Ao final me culpo por “castigar” o meu corpo ou ter “descarregado” minhas emoções nas pessoas mais importantes da minha vida.
O que aconteceria se você não pudesse acreditar que este pensamento é verdadeiro? Teria calma para refletir sobre o momento atual e reconhecer que nunca tive controle sobre nenhuma situação – que o controle foi uma ilusão que criei para gerar segurança em situações desafiadoras; me sentiria livre para escolher como lidar com cada situação, na medida em que elas surgissem, com base na consciência de que tenho todos os recursos para lidar com os desafios atuais – inclusive o recurso de pedir ajuda quando necessário.
Reverta o significado deste pensamento. Eu não tenho controle sobre o que está acontecendo – sempre foi assim. Voltei a sanidade! Enfim descobri a verdade – nunca tive controle sobre nada. A necessidade de controlar para me sentir seguro e poderoso era apenas uma ilusão. Não posso controlar o mundo externo, mas posso desenvolver a capacidade de gerenciar meu mundo interno – como lidar com meus pensamentos, sentimentos e emoções.
O que geralmente acontece quando aplico esta abordagem de transformação com meus clientes é que ao final da reflexão eles conseguem discernir o que é fantasia (criada pela mente) e qual o impacto que ela tem sobre si mesmos e seus relacionamento; e o que é realidade (aquilo que é). E surpresos, muitos descobrem que a realidade é muito mais generosa e gentil do que as expectativas negativas criadas por seus pensamentos.
Nesta quarentena, que ainda não tem data para finalizar, incentivo você a investigar os pensamentos e crenças que distorcem a sua percepção de si mesmo e da realidade, e que são a causa de todo o seu estresse, frustração e sofrimento. Descubra que sem a influência destas histórias você é livre para expressar todo o seu potencial e criar o futuro que você almeja. Não desperdice esta oportunidade!
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