
Para William Bridges, um dos maiores especialistas em gerenciamento da transição, mudança é aquilo que acontece fora de nós – perda de um emprego ou promoção; mudança de chefia, cidade ou país; perdas econômicas; problemas de saúde ou separação de uma pessoa importante, etc. Já a transição é o processo interno ou psicológico necessário para nos adaptarmos a uma nova realidade. Ela é vivida em três estágios: término, zona neutra e reinício.
Ao estudar a dinâmica da mudança e da transição, tanto no nível individual quanto organizacional, Bridges identificou algumas “regras” que facilitam o processo de transição e, desta forma, a adaptação a qualquer tipo de mudança.
Você precisa terminar antes de começar – esta é uma verdade importante do processo de transição, mas como ela gera sentimentos desconfortáveis, nós preferimos não falar dela ou compreendê-la. Nossa cultura tem aversão a términos, por que estes implicam em perdas, luto e morte. Não sabendo como lidar com estas experiências, negamos que elas estejam acontecendo, “pulamos” para os outros estágios da transição, ou permanecemos presos no passado. Mas sem a experiência do término a transição não acontece, o que significa que as pessoas e organizações não se renovam. E sem renovação não existe inovação, criatividade ou novas descobertas e perspectivas.
Entre o término e o reinício existe um hiato – este hiato é chamado de zona neutra, um período em que o passado não existe mais, mas o futuro ainda não chegou. A experiência é de estar “entre dois mundos”, dois estados de existência. Este é um período de grande ansiedade e insegurança – não sabemos claramente quem somos nem para onde estamos indo. Além disso, nossas fragilidades e limitações ficam mais claras, pois não temos a rede de proteção das “certezas” que ficaram no passado. Muitas pessoas têm dificuldades para lidar com os desafios deste estágio e procuram voltar para o passado, ou fugir para o futuro, para se livrar do caos e da confusão.
O hiato pode ser criativo – a zona neutra pode ser um período potencialmente criativo, pois já não existem “verdades” ou “certezas” inquestionáveis. Ela oferece a possibilidade de nos reinventarmos – antigas idéias, sonhos e projetos, que nunca saíram do papel, agora têm a possibilidade de receberem atenção. Potenciais e capacidades que nunca foram utilizados plenamente têm a oportunidade de serem reconhecidos e valorizados. Um novo propósito está sendo gestado. Mas para que isso ocorra é necessário permanecer na zona neutra o tempo suficiente para que o processo se complete. Infelizmente, poucas pessoas reconhecem o valor desta experiência, pois não têm o “mapa” (os três estágios da transição) e os recursos para lidar com os desafios desta fase.
A transição é evolutiva e plena de significado pessoal – o que termina numa transição não é apenas uma situação externa, mas um capítulo ou estágio de nossa vida. Uma nova percepção da realidade, e de nós mesmos, está ganhando forma. É preciso compreender que o caos e a confusão da transição não são aleatórios, mas tem um significado. É por meio deles que o novo está sendo construído, embora não saibamos disto enquanto estamos no processo. E lembre-se – a maneira como você lidava com a sua antiga realidade funcionava. Mas esta realidade não existe mais. Por isso, abrir mão de um pedaço do passado é a única maneira de manter o que ainda é relevante e significativo.
Transição é a fonte principal de renovação para pessoas e organizações – a evolução nem sempre acorre de forma incremental, mas muitas vezes na forma de saltos. Na natureza esses saltos são acompanhados da liberação de uma grande quantidade de energia. É por isso que após uma crise as pessoas e empresas ressurgem com um novo nível de motivação e entusiasmo. A renovação acontece quando aceitamos a transição e encaramos os desafios inerentes a ela. Após uma transição bem sucedida, observamos um novo conjunto de prioridades envolvendo nossas atividades e comprometimentos, o que significa que a nossa consciência está focada num novo conjunto de valores.
As pessoas atravessam a transição de acordo com diferentes velocidades e estilos – existem três estágios no processo da transição, mas cada pessoa ou organização lida com eles de forma particular, de acordo com seus históricos, perfis/temperamentos e nível de resiliência. É análogo a uma grande maratona: um pequeno grupo sempre sai na frente, por saberem das mudanças antes que os outros, ou por terem um histórico de lidar melhor com transições; um grupo intermediário avança com determinação, uma vez que a mudança tenha sido anunciada; por ultimo, observa-se um “batalhão” que nem inicia a corrida, por achar que é inútil, ou se perde no meio do caminho, pois não acredita que será capaz de chegar.
A maioria das pessoas e empresas funciona com base num “déficit de transição” – às vezes estamos no meio de uma transição relacionada a uma determinada mudança, quando uma nova mudança nos impacta. Num mundo em que a mudança é uma constante, cada vez mais pessoas e empresas estão funcionando baseadas num “déficit de transição”. Isso significa que elas trazem para o seu dia-a-dia as questões não resolvidas de transições do passado, que emergem na forma de reatividade, irritação, estresse ou depressão, falta de objetivos ou propósito claro. Quando as pessoas ainda estão lidando com as transições de mudanças anteriores, novas mudanças são encaradas com ceticismo, negação ou resistência. O primeiro passo para que as pessoas possam se libertar deste circulo vicioso é falando do “déficit de transição” – que situações elas ainda carregam do passado, quais sentimentos ainda estão “engasgados” e de que maneira eles podem ser transformados.