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Como transformar um chefe em um líder


O gerente da divisão de operações de uma grande empresa recebe a incumbência de avaliar a eficácia dos processos de sua área, e sugerir mudanças que possam otimizá-los. Ele assume a tarefa com grande motivação e um sentimento de “eu posso fazer e entregar”. Ele sabe que o futuro de sua carreira depende, em grande parte, do sucesso desse projeto.

Logo de início ele descobre que as pessoas-chave não estão muito dispostas a colaborar. Muitas delas são antigas na empresa e têm um senso de “propriedade” em relação aos processos atuais, pois criaram ou ajudaram a criá-los. Elas sentem que a mudança desses processos irá desafiá-las a ter que aprender tudo novamente, e criará tanto uma zona de desconforto quanto um processo de transição que elas não querem enfrentar.

Irritado com as resistências e falta de apoio o gerente resolve utilizar a única arma que   conhece – ameaça e pressão. Ele deixa claro que precisa dessas informações, e que para obtê-las será capaz de usar qualquer método. Por outro lado, as pessoas da sua equipe ao sofrerem esse tipo de reação, sentem-se desrespeitadas e consequentemente ficam imaginando como poderiam sabotar o resultado do projeto do seu superior.

Essa mesma sequência pode ser observada nas mais diferentes atividades, áreas e níveis de decisão. Quando propomos mudanças ou somos líderes de processos de mudança, geralmente não nos damos conta das resistências que iremos encontrar e, surpresos, utilizamos o poder da posição, a famosa “carteirada”, para tentar fazer o processo andar. Com isso geramos mais resistências e uma percepção negativa por parte da equipe. Agir de forma reativa tende a tornar-se a “norma” quando o fluxo de informações emperra ou a colaboração entre pessoas e equipes não acontece.

Embora saibamos, de forma racional, que motivar pelo medo não funciona e geralmente causa o oposto do que pretendemos, não conseguimos segurar nossas emoções e impulsos básicos. Mas como transformar esse padrão tão arraigado? Quais são as causas e como elas podem ser erradicadas?

A maioria as pessoas, incluindo líderes e gestores, funciona no dia-a-dia no “piloto automático”. Isso significa que elas não reconhecem a influência de seus padrões mentais e emocionais sobre seus comportamentos e ações. O fato de não estarem conscientes as impede de usar o livre-arbítrio para agir de forma diferente do condicionamento que elas herdaram do passado. Em outras palavras, a maioria das pessoas e líderes seguem um script ou círculo vicioso destrutivo que não conseguem interromper. Isso se reflete em relacionamentos com baixo nível de confiança que se traduzem em baixa motivação, falta de engajamento e baixa produtividade.

Para nos libertarmos desta programação negativa e reaver o poder de escolher nossas respostas, precisamos compreender como nosso sistema corpo-mente funciona e de que forma podemos utilizar esse conhecimento para criar novas opções de comportamentos. Para alcançar este objetivo, o consultor Richard Barrett criou um programa de autogerenciamento chamado Domínio Pessoal, composto por oito passos:

Passo 1 – Libere suas Emoções

No momento em que estiver estressado, irritado ou em conflito, não faça nada. Qualquer ação neste momento será prejudicial aos seus objetivos e dificultará a satisfação de suas necessidades. Como diz a sabedoria popular, “conte até dez”. Isso significa criar uma pausa entre o que você sente e pensa, e a resposta impulsiva condicionada. Respire profundamente algumas vezes, dê uma volta no quarteirão, converse com um amigo, mas não aja ou fale neste momento. Se você o fizer, irá se arrepender.

Passo 2 – Ative o Observador Interno

Todos nós temos a capacidade de observar de forma objetiva o nosso mundo interno, constituído de  pensamentos, sentimentos, sensações e percepções. Isso significa lembrar que as reações que você está tendo num momento de estresse não representam quem você é, mas expressa os condicionamentos que você carrega de  experiências do passado. A capacidade de auto-observação pode ser expandida através de treinamentos, práticas de meditação ou “mindfulness”.  Através delas você será capaz de criar, de forma gradativa, um espaço entre os pensamentos e as emoções condicionadas e o seu observador interno. Isso irá gerar dois resultados imediatos: a) a capacidade de escolher de forma consciente a melhor resposta ao momento; b) a capacidade de se conectar com uma experiência de estabilidade interna, paz e bem estar. Essas qualidades são intrínsecas à consciência que você experimenta quando não está identificado com as suas reações mentais e emocionais condicionadas.

Passo 3 – Identifique seus Sentimentos

Este passo é importante, pois na maioria das situações estamos completamente imersos ou identificados com nossos sentimentos. Por exemplo, se você está com raiva de alguém parece que você tornou-se a raiva, e não que ela é apenas um sentimento momentâneo emergindo em você. Em outras palavras, a raiva se torna parte de sua identidade e não um estado passageiro. Nesta condição emocional você não será capaz de tomar uma decisão equilibrada, que traga benefício para ambas as partes. Por isso, anote seus sentimentos para ganhar um maior distanciamento e consciência deles. Lembre-se que estes sentimentos são passageiros e estão condicionados à situação que você está vivendo, não fazendo parte de sua identidade.

Passo 4 – Identifique seus Pensamentos

Tão importante quanto ganhar consciência dos sentimentos é fazer o mesmo em relação aos pensamentos, para criar uma distancia que permite refletir sobre eles. Esta distância permite que você compreenda que: a) na maior parte do tempo você não “pensa seus pensamentos” de forma consciente, mas que eles simplesmente surgem no seu espaço mental; b) muitos destes pensamentos surgem de forma condicionada a partir do seu subconsciente; c) muitos destes pensamentos são de natureza negativa, julgando, comparando ou rejeitando aquilo que acontece. Se você agir com base nestes pensamentos, haverá uma grande chance de criar situações destrutivas e desnecessárias que irão fazer com que as pessoas se distanciem de você, o que consequentemente irá dificultar a sua capacidade de alcançar seus objetivos.

Passo 5 – Identifique seus Medos

O que alimenta estes pensamentos condicionados e destrutivos são os medos que você carrega, e que não reconhece no momento em que está vivenciando uma situação estressante. Esses medos nascem de uma percepção real ou imaginária de ameaça e fazem você acreditar que algo importante está em perigo. Por isso é muito importante reconhecer quais são os medos que influenciam seus pensamentos e comportamentos, avaliar se eles são reais ou imaginários, e analisar qual é o melhor curso de ação. Ao fazer este inventário você irá descobrir que, na maior parte do tempo, o que você considerava ser uma ameaça não é real, e que o medo foi criado pela sua própria interpretação da realidade. Como diz o adágio, mude a sua mente e a realidade irá mudar de acordo.

Passo 6 – Identifique suas Necessidades

Tudo o que fazemos na vida é para satisfazer algum tipo de necessidade. Abraham Maslow distinguiu as necessidades humanas em dois grupos: a) básicas ou deficientes; b) crescimento ou autorealização. Quando não conseguimos satisfazer as necessidades básicas nos sentimos ansiosos, reféns do medo e da insegurança. Viver neste estágio de consciência é muito doloroso e desconfortável, pois sentimos que não temos o suficiente para satisfazer as necessidades que nos dão um senso de segurança, pertencimento ou autoestima/valor pessoal. Pessoas que vivem neste estágio acreditam que a vida é uma luta contínua. Quando conseguimos satisfazer as necessidades básicas, nos libertamos da ansiedade e do medo, mas ainda não nos sentimos realizados. Este é o próximo passo – a busca de um senso de sentido ou propósito de vida. Pessoas que alcançam este estágio descobrem que a vida tem um significado, e que tudo o que elas viveram tem um sentido. Por isso, ao viver uma situação estressante, se pergunte: que tipo de necessidade não está sendo atendida nesta situação? Necessidade básica ou de crescimento? E como posso atender estas necessidades?

Passo 7 – Identifique suas Crenças

Ao identificar os pensamentos, medos e necessidades não atendidas, numa situação de conflito, estresse ou desapontamento, não é difícil reconhecer a crença limitante que está por trás destas situações. Segundo Barrett, as crenças limitantes podem ser classificadas em três grandes grupos: a) “eu não tenho o suficiente” (crença de escassez); b) “eu não sou amado ou reconhecido o suficiente” (crença de escassez emocional); c) “eu não sou o suficiente” (crença de escassez de autoestima). Reconhecer a crença limitante ou disfuncional que está operando no seu sistema numa situação indesejável é o passo mais importante para você transformá-la, pois você compreende de que maneira ajudou a construir a situação. Você assume responsabilidade pela sua parte, e isso o libertará do circulo vicioso da destrutividade.

Passo 8 – Investigue suas Crenças Limitantes

Investigar suas crenças limitantes significa reconhecer, de forma objetiva, a veracidade da crença que você identificou, e quais são os reflexos e consequências sobre as suas escolhas e comportamentos, quando você acredita que ela é verdadeira. Mais ainda, significa reconhecer como poderia ser a sua vida, e quais as opções que você tem em determinada situação, quando não está sob a influência desta crença. No livro “Amando a Realidade”, Byron Katie descreve o método que desenvolveu para investigar todos os pensamentos e crenças que distorcem a sua relação com a realidade. Ao fazê-lo, você descobre que: a) você é mais que a sua programação do passado e tem mais opções e escolhas do que imagina ter; b) tem acesso a um estado de liberdade que acreditou não ser possível existir; c) é capaz de olhar para as situações de forma objetiva, sem a influência de pensamentos e emoções perturbadoras, e assim atingir os objetivos que deseja conquistar.

Com a prática a utilização dos oito passos do Domínio Pessoal torna-se quase natural, o que permite que o gestor evite criar situações desnecessárias de estresse e conflito.  Mais que isso, de posse deste conjunto de habilidades ele será capaz de se comportar realmente como um líder, alguém que funciona como referencia de atitudes, valores e comportamentos tanto para a equipe quanto a organização.

PS: se você quiser receber a lista de sentimentos e necessidades para praticar os passos do Domínio Pessoal, entre em contato pelo email: contato@liderancaintegral.com.br

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